OPINIÃO

Crianças e adolescentes sob estiagem e violações

2024 chegou sob o anúncio de estiagem severa e o número de famílias atingidas cresce a cada dia

Por Ivânia Vieira
26/07/2024 às 08:20.
Atualizado em 26/07/2024 às 08:20

Registro da seca recorde de 2023 (Raphael Alves)

No ano de 2023, um contingente de 600 mil pessoas viveu o drama dos rios secos no Amazonas. Uma experiência compartilhada em relatos reduzidos embora os textos fotográficos seguissem em profusão. Falta de investimento e da vontade política determinada agiram para reduzir a escuta dos afetados e apresentá-la à sociedade como parte de um plano de ação, assistência, coleta de dados e de reflexão impulsionando tomada de decisão construída pelos vários setores.

Esse seria um passo promissor na história do Amazonas. A maior seca em mais de 100 anos é evento extremo, um dado histórico suficiente para mobilizar as instituições e enfrentar o marasmo administrativo e da cidadania. A fumaça completou o cenário em seu jeito próprio de denunciar as queimadas enquanto 150 mil famílias afetadas pela seca e outras tantas pelos incêndios vagavam suas dores.          

2024 chegou sob o anúncio da “severa estiagem”, agora realidade. O número de famílias atingidas cresce a cada dia. São 20 dos 62 municípios em situação de emergência desde o dia 5, quando o governador do Estado, Wilson Lima, assinou o decreto. O ato tem como justificativa os dados da Defesa Civil sobre os níveis dos rios em todas as calhas, todos eles abaixo do esperado para o período. Outras 22 cidades do Sul do Amazonas e da Região Metropolitana de Manaus (constituída por oito municípios) estão sob “emergência ambiental”.       

Entre os seres humanos e não humanos impactados pela seca dos rios e focos de incêndio, crianças e adolescentes são a parcela da população em agonia distinta e prolongada. Não puderam usufruir de ambiente para, em alguma medida, terem minimizados os efeitos dos danos recentes e já convivem com estiagem, fumaça, fogo.

Crianças e adolescentes indígenas, quilombolas, ribeirinhas não dispõem, nas cidades do Amazonas e da Amazônia, da garantia dos direitos. Retirado o fenômeno da seca e dos atos criminosos dos focos de incêndio, essas são pessoas que sobrevivem numa longa história de violência, naturalizada.

As meninas constituem o número mais alto das vítimas. Os registros oficiais mostram que as violações apresentam índice elevado na faixa etária de 10 a 14 anos tanto para meninas quanto meninos concentrando 34% do total das ocorrências.   

No item educação, estimativa apresentada pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc) aponta 20 mil alunos afetados pela seca no ano de 2023. Em uma realidade de imposição de um sistema da não cidadania na Amazônia, as pessoas crianças e adolescentes do Amazonas estão à margem do rio que sempre volta secar e dos serviços dos Governos Estadual e municipais que deveriam minimizar as dores dessa gente.     

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