OPINIÃO

No cenário eleitoral tem tudo, menos debate

Em contexto de prevalência das mensagens rasas em redes sociais, eleitor não consegue informação para a boa escolha

Por Ivânia Vieira
28/08/2024 às 09:27.
Atualizado em 28/08/2024 às 09:27

Para que serve o debate entre candidatos a cargos públicos nos poderes executivo e legislativo? Nos dicionários, a palavra debate remete à técnica/modalidade da comunicação oral, uma ferramenta para desenvolver o pensamento crítico, a busca de solução coletiva.   

Em outras explicações, a palavra debate é usada com frequência nos mais diversos contextos, desde filosóficos até políticos, com a finalidade de contribuir para tratar de ideias sobre temas considerados principais em diferentes época. Ou ainda atividade em que opiniões são expressas e argumentos são apresentados para ajudar a determinar o melhor curso de ação.

As experiências mais recentes dos debates entre candidatos a cargos de presidente da República, governador e prefeito mostram que debater considerando o corpus mencionado tornou-se exercício de quase impossibilidade. Os debates na programação das campanhas eleitorais majoritárias são outra coisa e se afastam da dimensão pública na qual estão submetidos. Debater reivindica do outro. Será?

Os primeiros debates deste ano proporcionaram performances para artificializar cada vez mais o confronto das ideias. São organizados diferentes artefatos de ataques pessoais, de prevalência da mentira e do "vale tudo" nessa batalha. Para quem é o espetáculo montado?

Como estão sendo percebidos no espetáculo do debate a sociedade – compreendida como grupo de sujeitos que, assumindo o seu papel de cidadãos, desenvolve certas ações para incidir no âmbito público – os eleitores que podem decidir pela vitória ou pela derrota do candidato, os grupos econômicos, políticos, religiosos, os movimentos de influência (os diferentes ativismos físico e digital)?

Se a proposta de debater, acordada com conglomerados de comunicação que disputam esse tipo de debate, é discursivamente apresentada como respeito aos eleitores, ao povo, defesa da democracia, por que os não debates proliferam?

A desinformação como sistema manipulador é questão central nessa disputa. Não se organiza e se faz o debate para tratar das causas da cidade e sim conseguir reunir material para produzir nas redes sociais o outro efeito que corre como bala pelos dedinhos humanos ou de máquinas inteligentes compartilhadores de um quadro na tentativa de reafirmar, convencer, dizimar, triunfar.

O processo de desinformação como arma também estabelece um padrão de ignorância e de aceitação de tais processos, violentos em si, que estimulam o distanciamento das pessoas em relação as propostas ou ausências delas nesses debates.

Progressivamente naturaliza-se a banalização dos dramas que a maioria das cidades abrigam e que pedem dos eleitos compromisso no enfrentamento e na resolução dos mesmos. Alguns candidatos, em debates, já disseram, sem qualquer constrangimento, que responderiam a perguntas feitas nesses encontro em suas redes sociais.

A arena, o palco, a plateia formados mostram enfretamento regado a meritocracia e acusações que constituem um programa de deseducação e se distancia anos-luz do eleitor que não consegue informação para a boa escolha.  

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